Não há quantidade absolutamente segura, muito menos indicação de frequência, tipo ou tempo de consumo de álcool durante a gravidez.
Um novo relatório clínico da Academia Americana de Pediatria (AAP) identifica a exposição pré-natal ao álcool como a principal causa evitável de defeitos do nascimento, de deficiência intelectual e de desenvolvimento neurológico em crianças. O relatório, Transtornos do Espectro Alcoólico Fetal, publicado em novembro de 2015, destaca que nenhuma quantidade de álcool é considerada segura para ingestão durante qualquer trimestre da gravidez.
Perturbações do Espectro do Alcoolismo Fetal (FASDs) é um termo abrangente para uma gama de efeitos que podem ocorrer em alguém cuja mãe bebeu álcool durante a gravidez. Problemas neurocognitivos e comportamentais da exposição pré-natal ao álcool se manifestam durante toda a vida, mas o reconhecimento precoce, o diagnóstico e a terapia para qualquer uma das condições que compõem as FASDs podem melhorar a saúde da criança.
Mas, segundo os autores do relatório, infelizmente, a falta de critérios diagnósticos uniformemente aceitos para os distúrbios relacionados com a exposição ao álcool durante a vida fetal tem limitado iniciativas que poderiam diminuir o impacto das FASDs.
A exposição ao álcool no pré-natal é causa frequente de defeitos estruturais ou funcionais no cérebro, no coração, nos ossos e na coluna, além de afetar também os rins, a visão e a audição. Está associada a uma maior incidência de déficit de atenção / hiperatividade e de deficiência de aprendizagem específica, tais como dificuldades em matemática e em linguagem, em funcionamento visual-espacial, no controle dos impulsos, no processamento de informações, nas habilidades de memória, de resolução de problemas, de raciocínio abstrato e de compreensão auditiva.
Cerca de metade de todas as mulheres em idade fértil, segundo o relatório americano, relatou o consumo de álcool no mês passado, e quase 8% das mulheres disseram que continuaram a consumir álcool durante a gravidez. Um estudo recente descobriu um aumento do risco de retardo de crescimento infantil, mesmo quando o consumo da grávida foi limitado a uma dose de bebida alcoólica por dia.
Ingerir álcool no primeiro trimestre da gestação, comparado a não beber, resulta em 12 vezes mais chances de dar à luz a uma criança com FASDs. Beber no primeiro e no segundo trimestre aumenta as chances de FASDs em 61 vezes. As mulheres que bebem álcool durante todos os trimestres da gestação aumentam a probabilidade de FASDs em 65 vezes.
A pesquisa sugere que a escolha mais inteligente para as mulheres que estão grávidas é abster-se de álcool completamente. O pediatra e o ginecologista/obstetra, bem como os demais profissionais de saúde, podem desempenhar papéis importantes no sucesso da prevenção das FASDs, nas modalidades de intervenção e tratamento, mas também no progresso da investigação necessária para descobrir meios adicionais para enfrentar as consequências ao longo da vida das crianças.
Fonte
Dr. Moises Chencinski (CRM-SP 36.349) médico membro do Departamento de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários da Sociedade de Pediatria de São Paulo
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