Infelizmente, a maioria dos homens não tem o hábito
de fazer o controle de sua saúde. E por mais que o câncer de próstata seja
absolutamente curável, ele pode trazer problemas na vida sexual do homem, por
diversas razões. Para falar melhor sobre isso, vou explicar um pouco sobre as
principais dúvidas a respeito deste tema:
Por que a cirurgia da próstata afeta a vida sexual?
É importante salientar que nem todo tratamento para
câncer de próstata causa alterações na vida sexual do homem. Hoje existem
recursos para tratar as doenças da próstata preservando a potência sexual. A
cirurgia que verdadeiramente traz um impacto maior nessa área é a
prostatectomia radical. Cirurgias menores como a RTU conhecida como
"raspagem", raramente trazem alguma mudança na vida sexual. No máximo
causam a ejaculação retrógrada, situação em que o ejaculado vai para dentro da
bexiga ao invés de sair em jatos como no orgasmo "normal".
Mas no caso da prostatectomia radical, a cirurgia para tratar o câncer, o impacto é bem maior. A cirurgia provoca alterações no orgasmo, na potência sexual e até na libido. Por isso, a chamada "reabilitação sexual" deve começar idealmente antes da cirurgia. Cerca de 90% dos homens submetidos a esta cirurgia sofrerão de disfunção erétil. Todos passarão a não ejacular nada após o procedimento, pois além da interrupção dos dutos deferentes que conduziam os espermatozoides produzidos nos testículos, as vesículas seminais são também removidas junto com a próstata. Não há mais produção de sêmen. Estar prevenido, portanto, preparando-se para as etapas que enfrentará é muito importante.
A
protectomia com robô impede a impotência?
A
prostatectomia radical pode ser realizada com corte tradicional, laparoscópica
ou com o robô. Até agora, nenhum estudo comparativo de boa qualidade mostrou
que uma técnica é superior a outra. Ou seja, ninguém pode afirmar, com base em
evidências científicas robustas, que operar com o auxílio do robô reduz o risco
de impotência sexual e mesmo de incontinência urinária.
Os
parâmetros que fazem a diferença em saber o risco de ficar impotente por causa
da cirurgia são de dois tipos: relacionados à saúde cardiovascular do indivíduo
e relativos à cirurgia em si. No primeiro grupo destacamos: a idade, a presença
de comorbidades como diabetes, hipertensão, obesidade e tabagismo, a existência
prévia de vida sexual ativa e o mais importante, a situação da ereção antes da
cirurgia. Em outras palavras, quem já possui algum grau de disfunção erétil
antes de operar tem maior chance de piorar com a realização da cirurgia para
tratar o câncer da próstata.
No
outro grupo de fatores contam a experiência do cirurgião, a localização do
tumor e a anatomia individual de cada paciente. Esses são fatores que
influenciam na possibilidade de preservar ou danificar os chamados nervos
erigentes, que passam próximo à glândula e em alguns casos podem ser lesados
durante a cirurgia. Quando a lesão do nervo ocorre dos dois lados, a impotência
sexual é certa e a recuperação mais complexa. Na preservação bilateral dos
nervos, a disfunção sexual costuma ser transitória e em média, após o primeiro
ano a função erétil está recuperada. O cirurgião sempre tenta preservar estas
estruturas, mas em alguns casos, para remover todo tecido afetado pelo câncer
ele precisa seccionar o nervo.
Meu
médico disse que estou curado do câncer, mas estou completamente impotente. E
agora?
Reabilitação
sexual precoce é a resposta. Significa ir voltando gradativamente a estimular o
pênis no sentido de preservar a qualidade do tecido erétil e aumentar a chance
de recuperar sua capacidade de ereção. Voltar a mexer no pênis, esticá-lo no
banho e masturbar-se. Essas manipulações simples da genitália devem ser
estimuladas.
Logicamente
que para retornar a praticar a relação sexual se exige um tempo maior, é
fundamental contemplar também a parte psicológica. Mas a preocupação aqui em
estimular precocemente é preservar a estrutura do pênis. Os estudos mostram
ainda que se nada for feito após a prostatectomia radical, a inatividade sexual
e a ausência de ereções fisiológicas causam atrofia do pênis. Ele encurta e se
torna mais fibroso.
Mas
porque as ereções são tão importantes? Não estou nem pensando em sexo!
Os
estudos realizados em pacientes submetidos ao tratamento do câncer da próstata
através da cirurgia demonstraram que a recuperação da capacidade de ficar ereto
é maior nos que iniciaram a reabilitação sexual precocemente. E utilizaram
estratégias que permitissem uma ereção rígida o suficiente para a penetração. O
interior do pênis possui estruturas especiais que proporcionam a capacidade de
ficar ereto: os corpos cavernosos. São como sanfonas que esticam e encolhem.
Sem ereções periódicas, as sanfonas atrofiam e perdem a capacidade de esticar e
encolher. Daí a importância das ereções periódicas, mesmo antes de existir
vontade de ter relações. Caso o médico fique aguardando o retorno do apetite
sexual para iniciar a reabilitação, um tempo precioso terá sido perdido. Os
resultados em termos de satisfação sexual no futuro serão piores.
Além
da reabilitação, existem outros tratamentos?
A
reabilitação foca na obtenção de ereções para preservar a qualidade do tecido
erétil enquanto o restante (integridade dos nervos erigentes, libido, alegria,
disposição entre outros aspectos) vai se recuperando com o tempo. Não podemos
negligenciar o impacto psicológico do diagnóstico do câncer e da cirurgia em
si.
Na
reabilitação frequentemente utilizamos a combinação de medicação oral,
medicação injetável e bomba peniana. Conforme a resposta clínica e adaptação
individual, o médico vai gerenciando as diferentes modalidades de tratamento
para atingir o objetivo final que é recuperar a vida sexual plena. Terapia
combinada pode incluir a injeção e o uso da bomba peniana, a medicação oral em
conjunto com medicação injetável e outras. Aqui vale muito a experiência de
cada profissional e o trabalho em equipe multidisciplinar que certamente deve
incluir o acompanhamento de psicólogo capacitado.
Tentei
de tudo e continuo sem conseguir fazer sexo. E agora?
Quando
todas as demais alternativas se mostraram ineficazes ou o paciente não obtém
uma boa adaptação, podemos falar sobre os implantes penianos (próteses). Mas é
sempre importante ressaltar o implante da prótese peniana não devolverá as
ereções fisiológicas e não produzirá aumento do tamanho do pênis. A prótese irá
substituir aquele tecido erétil, as sanfonas, por um material sintético.
Finalizo
lembrando que a adoção de hábitos de vida saudáveis é a base de tudo. Como
dito, a ereção do pênis depende de uma boa circulação de sangue e de uma
comunicação efetiva entre o cérebro e o pênis e cuidar da saúde de maneira mais
ampla é fundamental. Compreender que a atividade sexual não se limita a ereção
é parte fundamental da reabilitação e experimentar a troca de prazer utilizando
todo o corpo e todos os sentimentos facilitam a reabilitação após o impacto de
ter recebido o diagnóstico de uma doença que assusta. Além do mais, namorar e
alimentar o relacionamento desde sempre significa passo decisivo para o sucesso
de qualquer protocolo de reabilitação, assim como contar com a ajuda e apoio da
parceira ou parceiro faz muita diferença. Portanto, a mensagem final é: sempre
há uma alternativa viável para a retomada da vida sexual plena quando essa é a
vontade do homem!
site Minha vida
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