Todo Mundo tem que Ganhar

Sucesso é o que dá certo. O último projeto na empresa, a mudança de cidade em busca de novas oportunidades, a realização de um sonho. O que atrapalha é a existência de padrões com a medida dos outros.

Antes de se comparar com o vizinho, o irmão ou a celebridade da revista, portanto, é bom refletir em qual pódio você realmente gostaria de estar. Talvez exista um para cada um de nós.

Sejamos francos: quem não quer fazer sucesso? Eu, você, tanto quanto nosso amigo despreocupado e a modelo das passarelas, todos batalhamos por uma recompensa. Ao fim, a doce hora de curtir os louros é um direito legítimo. No entanto, nem todos têm a sensação de que chegaram lá, não é mesmo?

Mais do que falta de espaço entre os campeões, o equívoco parece nascer na escolha do troféu. Padronizamos demais a receita de uma vida bem sucedida e estamos renegando nossa singularidade.

Estabelecemos que fama e boa aparência, por exemplo, são primordiais. E aos poucos um ideal de beleza magra, tão severo, se instalou que já provoca vítimas de anorexia, distúrbio marcado pela necessidade de vestir um manequim cada vez menor. Não há limite também para o trabalho e o consumo. O jornalista canadense Carl Honoré, autor de Devagar (ed. Record), alerta para um padrão que faz com que as pessoas nunca saibam quando têm de parar. Tudo em nome do sucesso. Embora no caminho, tenhamos esquecido se vale a pena.

Veja a história de profissionais vitoriosos que lotam os consultórios médicos, psicológicos e psiquiátricos. São pessoas que lutaram para atingir uma meta e agora enfrentam a necessidade de trabalhar ainda mais para se manter no topo – pois a exigência nunca pára – ou depois de tanto empenho na carreira, não sabem mais como viver. Muito longe de se sentirem confortáveis, relatam uma sensação de vazio, como se tivessem perdido algo pelo caminho... A saúde deteriora, os amigos se afastam e o casamento desanda.

Segundo Álvaro Gullo, professor do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo, esse sucesso social é o que nossa cultura considera desejável. “Mas ele pode não coincidir com o êxito pessoal, que leva em conta as particularidades e as necessidades psicológicas do indivíduo”, explica o sociólogo. Quando isso acontece, surge um dilema.

Ou a pessoa abafa sua essência para correr atrás de um sonho que não é dela, ou segue sua voz e responde por essa escolha, mesmo na contramão do valorizado socialmente.

Para quem acredita ser possível encontrar realização em outras coisas que não o binômio reconhecimento público/dinheiro, novas portas se abrem.

Pense em que você realmente gostaria de ser mais eficaz? Onde está o seu gênio? Dessas respostas, há uma chance de surgir a luz do sucesso. Pode ser uma vida familiar afetuosa, um dia-a-dia em que prevaleçam o bem estar, o trabalho voluntário. Pense e veja se concorda: quando você, eu, ele e ela percebemos o que temos de melhor, não há derrotados.

GENTILEZA GERA SUCESSO
O psicoterapeuta italiano Piero Ferrucci, autor de A Arte da Gentileza (ed.Alegro), afirma em seu livro que as pessoas gentis são mais felizes e bem sucedidas.

“Pesquisas confirmam que elas são mais amadas e produtivas,têm mais sucesso nos negócios e são mais propensas a levar uma vida interessante e gratificante”, escreve.

Ainda segundo ele, quando temos consciência de nossas forças e fraquezas, ficamos menos propensos a nos gabar. “Muitas pessoas vivem competindo, ansiosas e têm menos energia para o que realmente importa: aprender, criar, manter relacionamentos significativos, abrir-se para um mundo de oportunidades”, escreve o psicoterapeuta. Daí o valor da humildade: “Uma pessoa humilde sabe muito bem que alguns são melhores que ela e aceita isso. Se não tento ser o que não sou de fato, posso ser eu mesmo, o que é libertador”.

AUTOCONFIANÇA + EQUILÍBRIO
A psicóloga e consultora Márcia Maranhão Limongi reforça algumas das características importantes para fazer o bom da vida acontecer.

- BUSQUE SE CONHECER: o sentimento pode ser um guia sábio. Ajuda a compreender nossos limites, ampliar o repertório de escolhas e definir metas realistas. Descobrir um hobby é outra forma de revelar potenciais. Muitas pessoas mudaram de profissão porque, ao aprenderem novas habilidades, mesmo por diversão, ampliaram sua capacidade cerebral.

- REVEJA SUAS CRENÇAS: parte delas foi herdada, outra aprendida. Mas todas precisam ser revistas, pois determinam nossas capacidades e, consequentemente, aquilo em que nos tornaremos no futuro. Se até hoje você estava convicto de que é indeciso, passe a avaliar também o quanto sua atitude de pensar vários lados do problema tem de ponderação.

- TOME CONSCIÊNCIA DE SUA CONEXÃO COM O MUNDO: uma ação pode mudar rumos, salvar vidas, assim como gerar transtornos. A consciência dessa cadeia de eventos nos leva à noção da responsabilidade que precisamos ter conosco, com os outros e com o ambiente no qual vivemos.

- VIVA COM MAIS QUALIDADE: precisamos cuidar da saúde física, mental e espiritual agora. O sucesso também depende da vida que você leva. Então, o quanto antes você perceber que é preciso reservar hora para o trabalho, hora de lazer, hora de estudo , hora de estar com alguém, melhor.

- ACEITE SEUS ERROS: ao desprezarmos os obstáculos e partirmos para outra, deixamos de lado a oportunidade de aprender com a experiência. Já quando fazemos do exame de consciência um hábito, percebemos onde falhamos, hesitamos ou detalhes essenciais que esquecemos. Estar aberto ao erro é o início do acerto, e se responsabilizar por ele, uma arte. A centelha criativa nasce na falta de respostas comumente utilizadas.

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